A DOLOROSA HISTÓRIA DE MANÉ LULU



Por Joel Reis



Em 19 de maio de 1936, por volta das duas da tarde, uma das frações do bando de Lampião chega a Morro Redondo, distrito de Catimbau, município de Buíque – PE. Montado a cavalo, o pequeno grupo[1] chefiado por Virgínio Fortunato, vulgo Moderno, segue por um caminho de lama quando avista um jovem alto, magro, caboclo quase indígena. Impetuoso, Moderno bradeja:

- Venha cá, cabra! Se corrê, morre!

Assustado, o rapaz que nunca havia visto cangaceiros, aproxima-se do grupo. Moderno pergunta:

 - Você mora aqui?

O jovem afirma que sim. Segue-se nova pergunta:

- Você sabe onde fica o Xilili? Quero que você me bote na estrada que vai prá lá. E diga logo, cabra!

Mesmo conhecendo o local, porém, de maneira ingênua diz:

- Moço! Num conheço, não.

Enfurecido, o chefe cangaceiro esbraveja:

- Cabra, como você mora aqui e não sabe onde fica? Me falaram que fica perto daqui.

Mesmo amedrontado, mantém a negativa implausível. Mal sabia o que sua ingenuidade o causaria naquele momento:

- Num sei não, sinhô.

Enfurecido, Moderno ordena que o levem para trás de um cercado. Arrastado pelos cangaceiros e em seguida derrubado a coice de fuzil. O chefe cangaceiro o levanta pela abertura da camisa, encara-o e o sentencia:

- Agora vô fazê um "serviço" prá mode você num deixar descendença de famia em riba do chão. Desça as calças, cabra!

Com as mãos no rosto, o jovem percebe repentinamente o que está acontecendo e no que se metera, implora em vão.

- Num tem santo que lhe acuda.

Moderno ordena:

- Segure os bagos senão eu toro com tudo (com o pênis)!

Em movimento de alavanca, o trinchete corre rápido e o pobre rapaz foi emasculado. Em seguida, ao ver o sangue, o cangaceiro brada:

- Agora vá prá casa, bote pimenta, sal e cinza!

No dia 25 do mesmo mês, Manoel Luís Bezerra, conhecido como Mané Lulu, noivo, 22 anos, chegava ao Recife acompanhado do soldado Manoel Basílio, onde permaneceu por um mês no Serviço de Pronto Socorro da Capital.


NOTA:

[1] Bando:  Moderno (Virgínio); Durvinha; Doninha; Moreno II; Chumbinho II; Jararaca III; Ponto Fino III, Serra Fogo; Canário II e Azulão III.

IMAGENS:

Mané Lulu, 1987 - Foto Divulgação.

Moderno (Virgínio), 1936 - Fotograma, Benjamin Abrahão (Aba-Film).

FONTES:

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Chegou ao Recife uma das vítimas de Lampião. 26 mai. 1936.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Como agem os bandidos. 14 jun. 1936.

MELLO, Frederico Pernambucano. A Castração real no cangaço: nota prévia estudo de caso. Ci. & Tróp, Recife, v. 31, n.1, p.7-14. jan/jun, 2003.



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