O PRIMEIRO JARDIM BOTÂNICO E ZOOLÓGICO DO NOVO MUNDO

Por Joel Reis

Figura 01: Local onde surgiu a primeira ponte do Brasil, no Recife. Imagem: Frans Post/Reprodução.
Fonte: StoryMapJS - Passeio pelo Pernambuco holandês

No período de ocupação holandesa no Nordeste (1630-1654), João Maurício de Nassau-Siegen durante seu governo (1637-1644) implanta em 1639 o primeiro Jardim Botânico e Zoológico do Novo Mundo em Recife, Pernambuco. 

O naturalista alemão George Marcgraf (1610 - 1644) e o médico naturalista holandês Guilherme Piso (1611 - 1678), formaram coleções com espécimes da fauna e flora recolhidas da localidade e também de expedições pelo sertão nordestino. O material deu origem à obra Historia Naturalis Brasiliae. 

As pinturas de Frans Post e Albert Eckhout retrataram esse acervo, que era utilizado para estudos comparativos e classificação de espécies. As ilustrações da fauna e flora tornaram-se testemunhos importantes de espécies atualmente desaparecidas ou em vias de extinção, parte de remanescentes florestais de um sertão praticamente intocado.

Figura 02: João Maurício de Nassau-Siegenem, 1637.
Fonte: Acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP
)

A rica biodiversidade brasileira era estudada e catalogada; na maioria das vezes várias espécies de fauna e flora eram enviadas para Europa, além disso, no período em que a cidade do Recife esteve bloqueada pelas guerras, as plantações feitas no jardim, abasteciam a cidade durante a escassez de alimentos. 

Os principais objetivos da construção desse jardim botânico foram os de se camuflar a cidade evitando, assim, sua visualização por possíveis invasores, o fornecimento de alimentos e o sombreamento local. Sua concepção paisagística seguia os estilos do renascimento italiano ao francês, resguardando elementos dos jardins medievais, com pomares e hortas, plantas medicinais e aromáticas. 

O horto teve uma existência efêmera e só durou até 1645, quando foi destruído pelos próprios holandeses antes de serem expulsos, por razões de segurança eliminaram as coleções mais importantes. Na retomada do território, os portugueses trataram de eliminar as últimas espécies cultivadas, possivelmente como uma forma de marcar a posse.



NOTAS

JARDIM BOTÂNICO E ZOOLÓGICO DO RECIFE - Foi construído na ilha de Antônio Vaz, atual bairro de Santo Antônio, na Praça da República em Recife - PE, atualmente quase não há sinais desse jardim botânico.

NOVO MUNDO - É um dos nomes dados ao hemisfério ocidental, mais especificamente ao continente americano. O termo tem as suas origens nos finais do século XV em função da descoberta da América por Cristóvão Colombo.

GEORGE MARCGRAF - Naturalista alemão com formação em matemática, história natural, astronomia e medicina. Em 1638 veio para o Brasil, permaneceu até 1643.

GUILHERME PISO - Médico e naturalista holandês. Seu nome em língua neerlandesa é Willem Piso.

ESPÉCIMES - Modelo, exemplar, tipo, amostra.

HISTORIA NATURALIS BRASILIAE - Na década de 1630, Marcgraf e Piso visitaram o Nordeste, descreveram e desenharam várias espécies. Essa obra é o resultado desse extraordinário empreendimento científico que seria empregado por Lineu para conceber seu conceito de espécie. Considerado o mais abrangente e detalhado trabalho da história natural do Brasil até o século XIX.


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. Vasconcelos de; OLIVEIRA, M. A. Borstelmann de; MEUNIER, I. M. Jacqueline. Animais e plantas do Horto Zoo-botânico do Palácio de Friburgo (1639-1645) construído por Maurício de Nassau no Recife. Recife: ABFHiB Filosofia e História da Biologia, v. 6, n. 1, 2011.

BEDIAGA, Begonha. Conciliar o útil ao agradável e fazer ciência: Jardim Botânico do Rio de Janeiro - 1808 a 1860. Rio de Janeiro: Hist. cienc. saude-Manguinhos, v. 14, n. 4, 2007.

MACHADO, Janderson Clayton Farias. O Despertar do Recife No Brasil Holandês. Dourados: Revista História em Reflexão, vol. 4, n. 7, UFGD, jan./jun. 2010.

REIS, Joel; GONÇALVES, D. S. BRASIL: panorama histórico das unidades de conservação. São Roque, SP: IFSP - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, 2014.

VEIGA, R. F. A. et al. Os Jardins Botânicos Brasileiros. Campinas: O Agronômico, v. 55, n.1, p. 56-60, 2003.



 

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