Figura - Crianças da comunidade mapuche
Fonte: iberculturaviva
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Em um passado não tão longínquo a educação era considerada meramente como a ação do adulto sobre os jovens no sentido de adaptá-los à vida social. Na atualidade, um dos principais papéis da educação consiste em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ou seja, ela, a educação, parece ter como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem tanto quanto possível, donos do seu próprio destino. Nesse sentido, a educação pode ser um fator de coesão, se procurar ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos que compõem a sociedade da qual faz parte, evitando, desse modo, tornar-se um fator de exclusão social.
Compete aos sistemas educativos formais, através da escola, explicitar aos jovens o substrato histórico, cultural e religioso dos diferentes grupos que compõem a sociedade. Situação que, muitas vezes, não é respeitada pelos sistemas educativos. Os sistemas educativos formais são acusados e com razão, de limitar a realização pessoal, impondo a todas as crianças o mesmo modelo cultural e intelectual, sem ter em conta a diversidade. Tendem cada vez mais homogeneizar a sociedade em detrimento da diversidade cultural que a compõe.
Grandes são os desafios postos à educação num mundo cada vez mais multicultural. As minorias, tal como as indígenas, foram muitas vezes subordinadas, contra sua vontade, aos interesses do Estado e da sociedade dominante. Adquiriram, assim, uma nova identidade e uma nova consciência nacional, foram obrigados a abandonar a sua cultura, língua, religião, tradições e a adaptar-se às normas que os sistemas educativos se encarregaram de reforçar e perpetuar.
Em muitos países, as finalidades e exigências de um sistema educativo nacional entram em conflito com os valores, interesses e aspirações de grupos culturalmente distintos.
Uma educação verdadeiramente intercultural deverá ser capaz de dar respostas à integração nacional e às necessidades específicas das comunidades locais, rurais ou urbanas que têm cultura própria.
Ao analisarmos as posições apresentadas pelos professores no texto “Educação Intercultural” de como as diferenças culturais são trabalhadas na escola, notamos que as posições que acima discutimos são identificáveis no discurso dos mesmos.
Há uma preocupação de todos com a promoção da integração dos índios Mapuches à sociedade chilena, mas com visões dispares com relação à forma de integração.
Há uma preocupação de todos com a promoção da integração dos índios Mapuches à sociedade chilena, mas com visões dispares com relação à forma de integração.
No relato do primeiro professor, o mesmo considera como barreira para a integração a visão discriminatória que os Mapuches têm em relação aos chilenos. E, segundo ele, cabe ao professor ajudar os indígenas a superarem essa barreira por meio da oferta das mesmas coisas que se oferece aos chilenos. Parece-nos que o professor tem uma visão muito romântica sobre o problema, pois, para ele, só o fato de tratar todos iguais seria o passaporte para que se sentissem iguais. Em verdade, a posição desse professor é a de homogeneização social, onde a cultura Mapuche seria substituída pela chilena simplesmente e todos viveriam felizes para sempre.
Contrariamente a essas ideias, temos a posição da professora Fresia. Para ela, asseverar as diferenças entre as duas culturas é um requisito para a integração. Em outros termos, é preciso instrumentalizar os Mapuches para que convivam com ambas as culturas. A sua visão converge para os desafios que os sistemas educacionais têm hoje frente às sociedades multiculturais: integrá-las pelas suas diferenças. O que é contrário a visão de integrar respeitando as diferenças culturais, que, em verdade, acaba gerando a exclusão social.
A professora Fresia pondera ainda que as maiores barreiras a serem enfrentadas nesta questão da inclusão social ou integração é a língua e a falta de conhecimento dos professores com relação à cultura dos índios. É ideal que o professor tenha conhecimento suficiente da cultura e do código linguístico para que seja promovida com eficácia a educação intercultural.
Num outro extremo, temos a visão do professor Esteban que entende que o papel da escola é o de instrumentalizar a população indígena para enfrentar os preconceitos da sociedade chilena em relação a eles. Para ele, quanto mais os Mapuches dominarem a cultura do chileno, melhor preparado estarão para enfrentar a discriminação. Sendo assim, entende-se que tal visão é de exclusão social, porque corrobora com a manutenção do preconceito social entre seus pares. O objetivo da integração social é o de paulatinamente extinguir tais preconceitos via aceitação das diferenças, reconhecimento e o convívio com as mesmas.
Enfim, o que podemos ponderar nesta discussão é que estamos muito longe de atingir uma educação verdadeiramente intracultural. As ações desses professores com relação às diferenças culturais centram-se em evidenciá-las como marcadores de exclusão e não como de inclusão. Talvez a ação mais sensata, guardada as devidas proporções, seja a da professora Fresia. Ela, pelo menos no discurso, mostra uma preocupação no sentido de que os Mapuches devem interagir com as duas culturas, que eles precisam sim, por uma questão de sobrevivência, dominar a cultura chilena, mas para isso não tem que abandonar a sua.
TEXTO "EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
TEXTO "EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
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